13 anos - A
virada para a vida adulta
Mudanças físicas, sociais e psicológicas acontecem cada vez
mais precocemente, marcando essa idade como nenhuma outra. Para os adolescentes
é complicado - e para os pais também
Suzane G. Frutuoso e João Loes
Nada
deixa a paulista Gabriela Basílio mais feliz do que estar entre amigas. Com
elas, convive na escola, vai ao inglês, joga handebol, troca segredos. Ao mesmo
tempo, se existe algo que a deixa constrangida, são os carinhos dos pais na
frente da turma. "Gosto que façam isso em casa. Senão, morro de
vergonha." Gabriela não sai sem perfume e rímel. Agradece ao mercado por
produzir marcas que lhe dão estilo ao se vestir. Já deu o primeiro beijo (acha
que a mãe desconfia; o pai vai saber por esta reportagem). Baixa música todos
os dias pela internet. Só compra CD se for de ídolos como Britney Spears. Viver
sem celular? Jamais. "Entro em desespero quando não acho o meu", diz.
Adora dançar nas matinês, das quais só sai depois das 22h. [...] Gabriela é uma
típica representante dos jovens de 13 anos da atualidade.
Assim
como os 18 anos representaram há duas gerações e os 15 anos há uma, os
adolescentes de 13 anos dos anos 2000 simbolizam o início da travessia para a
vida adulta. Uma idade marcada por uma atividade social intensa, um corpo em
transformação, muitas dúvidas e euforia. A indicação etária que os elevou a
esse patamar não simboliza maturidade emocional e física. Pelo contrário.
Antecipadas a uma idade tão precoce, essas mudanças podem causar muita confusão
em mentes e corpos bombardeados por hormônios responsáveis por uma infindável
flutuação das emoções.
Esse
começo da adolescência é considerado, ao mesmo tempo, a fase mais assustadora e
a mais encantadora. As dúvidas surgem com as muitas e rápidas modificações
corporais, geradoras de insegurança. É inesquecível, por ser o primeiro passo
rumo à vida adulta cheia de conquistas, com a possibilidade de contestar tudo,
repleta de promessas de liberdade irrestrita e de invulnerabilidade. Pelo menos
é o que eles acreditam. Os pais, por sua vez, ficam sem saber como agir e
entender o filho que parece renegar a família. "Os 13 anos são marcados
pelo desejo de não querer mais apenas seguir um comando", diz o hebiatra
(médico de adolescentes) Paulo César Pinho Ribeiro, presidente do Departamento
de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria. "Eles estão rompendo
os domínios paternos, querem trocar experiências. Por isso, valorizam a opinião
do grupo de pares."
Para
compreender o que se passa nesse período, nada melhor que ouvir os próprios
protagonistas. IstoÉ aplicou uma
enquete com 100 alunos de 13 anos em três escolas de São Paulo (SP), do Recife
(PE) e de Curitiba (PR) [...]. A pesquisa mostra, por exemplo, que 66% acham
suficiente o envolvimento dos pais em seu cotidiano e 50% definem como
excelente a relação que têm em casa. O relacionamento com os amigos ganha
avaliação semelhante - é excelente para metade deles. Significa que a
importância dessas duas vertentes em suas vidas tem o mesmo peso.
"Tenho
muitos amigos", comemora o carioca Luiz Guilherme da Costa Neves,
confirmando quanto os pares são fundamentais nessa época. Ele diz que a
convivência com os pais é boa. Porém, sinaliza que deseja espaço. "Vira e
mexe estou com a porta do quarto fechada", diz. "às vezes, meus pais
querem entrar, mas eles atrapalham." O pai, o advogado Luiz Octávio
Miranda, 51 anos, entende o menino. "É natural ele querer mais
privacidade. Não vejo isso como um problema", diz. Receber com tranquilidade
as novas atitudes do filho faz de Miranda uma exceção. A maioria não sabe lidar
com garotos e garotas entrando na puberdade. "Eles pararam no tempo.
Pensam que o bom da adolescência deles será bom para a dos filhos hoje",
afirma o psiquiatra Içami Tiba, autor do best-seller
Adolescentes - Quem Ama Educa! O
especialista diz que os adultos pecam por extremos. Há pais que prendem os
filhos em casa, esquecendo que pela internet eles têm o mundo ao alcance -
inclusive das drogas e da pornografia. Enquanto outros dão liberdade, mas não
sabem exigir responsabilidade. Oferecem independência sem cortar os laços da
dependência econômica e criam adultos que desistem diante dos primeiros
contratempos, incapazes de se frustrar.
Na pesquisa de IstoÉ,
84% dos jovens não consideram a virgindade essencial. "É até melhor
conhecer o sexo antes do casamento", respondeu um deles. Não quer dizer
que já mantenham relações sexuais, mas o assunto interessa - e muito. Seria
mais uma descoberta normal da fase. O problema está em crescerem numa cultura tão
erotizada quanto a de hoje. [...] De acordo com dados da Pesquisa Nacional de
Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, do Ministério da Saúde, de 1996 a
2006 o percentual de mulheres que perderam a virgindade até os 15 anos saltou
de 11% para 33%. Nessa mesma faixa etária, 47% dos meninos fizeram sexo. É verdade que no passado 13 anos já foi idade para casamento,
mas a expectativa de vida também não passava de 45 anos. Era natural a iniciação sexual tão
cedo. Não é a realidade do século XXI.
Só se envolve com sexo antes da hora, porém, quem estiver
inseguro, tentando ser aceito na sociedade. "Os jovens dessa idade
precisam de informação para entender tantas mudanças. E o mundo em que vivem não
oferece isso", diz a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora
do Programa do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O
papel dos pais no processo de construção da autoestima é fundamental. A relação
de autoridade ainda funciona nessa fase. "Mas é preciso conquistar o
respeito antes de impor regras", diz Paulo Al-Assal, da empresa de
pesquisas Voltage. Pais que mostram
aos filhos disposição em aprender com eles ganham pontos. Esperar passar
momentos de raiva para conversar também pode surtir efeito melhor do que
discutir depois de uma resposta atravessada, por exemplo. Por fim, é preciso não
temer zelar pelos filhos, por mais que eles esperneiem dizendo que não são mais
crianças. É assim que os adolescentes de 13 anos de hoje se tornarão adultos
responsáveis, éticos, honestos. E com repertório próprio para construir sua
felicidade.
IstoÉ. São
Paulo, n. 2084, 21 out. 2009, p. 81-83. Três Editorial Ltda.