sábado, 4 de junho de 2016

Prof. Glauber - A Reforma Protestante e a Contrarreforma Católica (Material de Estudo para os Segundos)

A Reforma Protestante (Século XVI)

"A Venda de Indulgências" por Jörg Breu (Alemanha, 1530)

  • A maior senhora feudal: Durante a Idade Média a Igreja católica atingiu seu apogeu, transformou-se na maior senhora feudal, acumulou uma enorme riqueza e controlava a Europa politicamente e socialmente. A vida do alto clero era cercada de luxo e ostentação.
  • Renascimento X Igreja: O pensamento renascentista criticou duramente o ideal Teocentrico da idade média, além disso, o avanço da ciência colocava em cheque vários dogmas da igreja.
  • Burguesia X Igreja: A igreja condenava o lucro individual e era contra a cobrança de Juros, assim, a burguesia constantemente entrava em conflito com a Igreja católica.
  • Nobreza X Igreja: O poder político e social da igreja incomodava alguns setores da nobreza. Alguns nobres queriam tomar as terras da igreja para expandir seus territórios e vários reis buscavam diminuir o poder do papas para aumentar a sua própria autoridade (Monarquias Nacionais).
  • Igreja X Igreja: Ainda no século XIV, vários membros da igreja denunciavam abusos de poder, imoralidades e casos de corrupção que ocorriam nos mosteiros e igrejas. Alguns desses casos se tornaram práticas tão freqüentes que praticamente se tornaram dogmas da igreja.
  • Venda de Indulgências: A Igreja passou a vender o perdão divino aos seus fieis, alguns nobres e burgueses chegavam a comprar lotes de terras no paraíso como uma forma de garantir sua salvação e vida eterna.
  • Culto a “Relíquias Sagradas”: Para motivar os fiéis a igreja começou a criar inúmeras “relíquias sagradas”. As relíquias poderiam ser desde um osso do dedão de um santo até uma lasca da madeira da cruz onde Cristo foi crucificado. Segundo alguns pensadores renascentistas, se a igreja juntasse todas as lascas da suposta cruz de Cristo, ela seria capaz de construir a arca de Noé. As relíquias também eram vendidas a preços exorbitantes rendendo em mais divisas para a igreja.
  • A Venda de Cargos Religiosos: Os cargos religiosos podiam ser comprados. Geralmente nobres compravam cargos para seus filhos que não tinham direito a herdar suas terras. Como resultado, o clero em geral era extremamente despreparado conhecendo pouco, ou nada, a respeito da Bíblia.
Martinho Lutero (1483 - 1546)


  • Monge germânico ligado a ordem dos agostinianos (Santo Agostinho), que pregavam a salvação pelo destino e pela graça divina.
  • Salvação pela fé: Lutero pregava que a salvação não poderia ser alcançada por méritos humanos ou por “boas ações”, mas somente pela fé.
  • 95 Teses de Lutero (1517): Em 1517, Lutero pregou na porta de sua igreja 95 teses que criticavam duramente a igreja católica. As teses foram escritas em alemão para que todo o povo germânico conseguisse ler. As teses criticavam:
    • As indulgências
    • As vendas de cargos religiosos.
    • O despreparo e de vários clérigos.
    • A vida desregrada de vários sacerdotes.
  • Apoio da burguesia: A burguesia apoiou Lutero, pois queria um clero menos intransigente e mais aberto às mudanças propostas pelo capitalismo.
  • Apoio da nobreza: Vários nobres queriam tomar as terras da igreja, portanto, apoiaram Lutero.
  • Apoio popular: Os camponeses viam a igreja como uma exploradora que os forçava a pagar dízimos com o dinheiro que não tinham.
  • A Excomunhão: O papa Leão X exigiu que Lutero se retratasse de suas teses, no entanto, o monge não se retratou e foi excomungado pela igreja (expulso). Lutero deveria ser morto pela inquisição, no entanto, vários nobres protegeram Lutero e garantiram ao ex-monge um julgamento, onde foi absolvido. Mesmo assim, Lutero foi expulso do Sacro Império Romano Germânico por pressão do papa.
  • A Doutrina Luterana: Após a sua expulsão Lutero foi abrigado por nobres de outras terras interessados em diminuir o poder da igreja católica. No exílio, Lutero escreveu as doutrinas pelas quais várias religiões protestantes baseiam seu dogma. Entre as doutrinas luteranas estão os seguintes conceitos:
    • Salvação pela Fé: Somente a fé salva, não importa as boas ações de uma pessoa.
    • Tradução da Bíblia e do Culto Religioso: A bíblia é vista como a única fonte confiável em relação a palavra divina, assim, a sua tradução é necessária para a compreensão do povo. Para aumentar essa compreensão, Lutero define que os cultos religiosos deveriam ser ministrados na língua nativa.
    • Fim do Celibato: Lutero defende que não há na bíblia fundamentos para o celibato (proibição do casamento para clérigos). O próprio Lutero se casa em 1525 com Catarina von Bora (1499 – 1552), freira católica que Lutero ajuda a fugir do convento.
    • Proibição ao culto a Ídolos: Lutero condena o culto às imagens e às relíquias sagradas.
    • Dois Sacramentos: A Igreja católica criou sete rituais para transmitir a graça divina aos fiéis (batismo, crisma, eucaristia, penitência, unção, ordem e matrimônio). Para Lutero, apenas dois sacramentos poderiam conferir a ligação do fiel com Deus, o Batismo e a Eucaristia (santa ceia).
    • Consubstanciação: Lutero negava a transubstanciação católica que transforma o pão e o vinho no corpo de cristo. Em seu lugar propôs a consubstanciação que considera o pão e o vinho como as bênçãos sagradas.
Religiões Protestantes

  • Igreja Luterana: Criada por Lutero, a igreja Luterana seguia a risca a doutrina proposta por seu criador. Em geral, os fiéis do Luteranismo eram nobres alemães descontentes com o poder político da Igreja Católica.
  • Igreja Anabatista: As propostas de Lutero geraram um movimento radical conhecido como Anabatismo. Os anabatistas acreditavam na volta de Cristo em pessoa para combater o mal e instituir o Reino de Deus com duração de 1000 anos. Após o final desse período aconteceria o Juízo Final. Os anabatistas defendiam também a igualdade entre todos, chegando a propor a distribuição igual de riquezas e terras e o fim da propriedade privada. As propostas anabatistas atraíram os camponeses que começaram a exigir a abolição da servidão e a posse comunitária da terra. Com o apoio de Lutero, tropas militares reprimiram brutalmente o movimento, matando milhares de pessoas e os líderes anabatistas.
  • Igreja Calvinista: A Igreja católica condenava o lucro e usura (juros), desse modo, a burguesia precisava de novos parâmetros morais, econômicos e religiosos que legitimassem a obtenção de lucro e a exploração do trabalho assalariado. As idéias luteranas levaram a Suíça a uma guerra civil (1531) entre conservadores e reformistas. O conflito cessou quando as partes fizeram um acordo dando a cada região o direito de escolher sua religião. Em 1536, um teólogo francês e defensor do luteranismo chamado João Calvino publicou seus estudos que reafirmavam as propostas de Lutero e destacavam a teoria da predestinação do individuo a salvação. Calvino pregava o rigor da disciplina, a valorização moral do trabalho e da poupança, para Calvino, o êxito econômico era um sinal de predestinação a salvação. As teses de Calvino deram aos burgueses uma justificativa para suas atividades. Portanto, a igreja calvinista fez grande sucesso entre os burgueses de toda a Europa especialmente na Inglaterra (puritanos), Escócia (presbiterianos) e França (huguenotes).
  • Igreja Anglicana: Em 1527 o rei Inglês Henrique VIII pediu ao papa Clemente VII a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão (Espanha), porém, diante da negativa do Papa, o rei inglês assumiu o controle da igreja na Inglaterra. Em 1534, Henrique VIII proclamou o Ato de Supremacia, colocando-se como líder da Igreja Anglicana podendo nomear os bispos e determinar quais seriam os dogmas da igreja. Por essas ações, o rei inglês foi excomungado. Em 1536, o Henrique VIII confiscou as terras da igreja na Inglaterra e as vendeu a comerciantes, nobres e fazendeiros, ganhando o apoio de nobres e burgueses para a igreja anglicana. Durante o reinado de Elizabeth I, a igreja anglicana adotou características do calvinismo.
A Contrarreforma Católica (Século XVI)

Gravura Espanhola de 1559, demonstrando a ação da Inquisição

  • Século XV: Nos anos finais do século XV, ou seja, antes mesmo da reforma protestante, já havia na igreja uma preocupação com os rumos do catolicismo. Muitos padres questionavam a imoralidade e a indisciplina do clero, no entanto, somente quando a reforma protestante passou a ameaçar o poder papal foi que a igreja passou a se preocupar em adotar medidas concretas.
  • Volta da Inquisição: Diante do avanço dos ideais protestantes, o papa Paulo III reorganizou o Tribunal do Santo Ofício. Durante a idade média, o tribunal foi responsável pelo combate às heresias e seitas contrárias aos dogmas católicos. O tribunal também ordenou a queima de várias mulheres que foram consideradas como bruxas e feiticeiras. O novo tribunal se estabeleceu com mais força na península Ibérica (Portugal e Espanha) e teve como principal alvo os Cristãos Novos (judeus convertidos ao cristianismo) e os reformistas.
  • Concílio de Trento (1545 – 1563): Em 1545, o papa Paulo III convocou o Concílio de Trento, com o objetivo de rebater as críticas feitas pelos protestantes. Os debates foram interrompidos várias vazes, por isso, levou anos para chegar a uma conclusão. Entre as decisões tomadas pelo concílio estão:
    • Reafirmação dos dogmas católicos e sua doutrina com base na bíblia e na tradição (e não somente na bíblia como queriam os protestantes).
    • Manteve os sete sacramentos.
    • Reforçou o poder do papa.
    • Considerou crime a venda de indulgências.
    • Conservou o culto aos santos.
    • Conservou o celibato clerical.
    • Organizou o “Index Librorum Proibitorum” (relação de livros proibidos) que só foi abandonado em 1966.
    • Fixou regras para a formação de padres e monges.
  • Os Jesuítas: O presbítero Inácio de Loyola fundou em 1540, com a autorização do papa Paulo III, a Companhia de Jesus. O Objetivo dos Jesuítas era propagar o catolicismo através da pregação, do ensino e da catequese de nativos além-mar.
  • A Noite de São Bartolomeu (1572): A reforma e a contra reforma gerou conflitos internos em quase todos os países europeus, na França não foi diferente. Apesar de um tratado criado em 1570 declarar a paz entre protestantes e católicos, os reis católicos ordenaram um massacre aos protestantes no dia de São Bartolomeu (24 de Agosto). O massacre durou vários dias, gerando uma enorme quantidade de mortos.