sábado, 4 de junho de 2016

Prof.Glauber - A Primeira Guerra Mundial 1914 - 1918 (Material de Estudos para os Terceiros)

A Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918)


"Dança no Moulin Rouge"
por Henri de Touluse-Lautrec (França 1890).
Modo de vida burguês: Entre os anos finais do século XIX e o início do século XX os europeus passavam por uma grande onda de otimismo gerada pelos avanços científicos, tecnológicos e comerciais. Os capitais gerados pela exploração neocolonialista desenvolveram as indústrias e as cidades européias gerando um sentimento de euforia progressista e a consolidação dos valores e do modo de vida das elites européias. Esse período de prosperidade européia ficou conhecido como Belle Époque.
Tensões na Europa: Apesar do clima de otimismo, a Europa era um continente cheio de tensões que ameaçavam a paz entre as potências européias. As tensões foram geradas pela corrida imperialista do século XIX, que gerou e acirrou rivalidades existentes entre os países europeus.
A Guerra Franco-Prussiana (1870 – 1871): O chanceler alemão Otto Von Bismark (1815 – 1898) e seus generais consideravam que uma guerra com a França era o último passo para concluir a unificação alemã, uma vez que, a França impedia a união do norte da Alemanha com o sul. Portanto, o chanceler alemão se aproveitou da fragilidade política do imperador francês Napoleão III (1808 – 1873) e fomentou uma guerra entre os dois países. Sem forças, a França foi derrotada pelo Império alemão que além de concluir sua unificação, conquistou regiões francesas na fronteira com a Alemanha conhecidas como Alsácia-Lorena.
A Paz Armada: No período que compreende da guerra Franco-Prussiana (1871) à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), houve uma relativa paz entre os países europeus, apesar da grande tensão existente. Entretanto, o período também foi marcado pela corrida armamentista, onde as potências imperialistas investiram pesado na indústria bélica (armas) e na formação de exércitos profissionais.

A Política das Alianças

Por meio de acordos econômicos, políticos e militares, as potências européias formaram alianças com o objetivo de isolar e combater seus rivais. Assim, foram criados dois blocos, a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente.


Tríplice Aliança (ou Potências Centrais):

Império Alemão: A unificação tardia entre estados alemães (1871) atrasou a largada de Alemanha na corrida imperialista do século XIX. Apesar do estágio avançado de Industrialização, a Alemanha conquistou poucas colônias na África e Ásia. Além disso, a recém formada Alemanha pretendia rivalizar com a Inglaterra no comércio marítimo.
Itália: Assim como a Alemanha, a Itália também promoveu uma unificação tardia (1866). Esse fato aproximou os dois países que se aliaram na busca por mais colônias. As vésperas da primeira guerra, um acordo de ajuda mútua entre Itália e Alemanha foi assinado, no entanto, assim que a guerra começou a Itália se manteve neutra, ignorando o acordo.
Império Austro-Húngaro: A aliança entre Alemanha e Áustria-Hungria explica-se pela necessidade de estabilização da recente unificada Alemanha.

Tríplice Entente:

Grã-Bretanha: Maior império neocolonialista, a Grã-Bretanha pretendia manter sua hegemonia na África, na Ásia e no comércio marítimo. Reconhecendo ao interesses alemães de superar o Império Britânico, a Inglaterra se alia a França formando a Tríplice Entente (acordo) em 1904.
França: Além do interesse em manter seu império na África e Ásia, a França despertou um sentimento revanchista após o fim da guerra franco-prussiana (1871). Assim, a França passou a fazer vários acordos com países rivais da Alemanha. Em 1891, um acordo (entente) foi firmado entre França e Rússia. Em 1904, com a Inglaterra. Ambos os acordos visavam impedir o avanço industrial e imperialista alemão.
Rússia: O Império Russo, buscava acesso ao mar mediterrâneo para só então conquistar colônias na África, para isso, precisava controlar a região dos Balcãs que estava sob a influência do Império Austro-Húngaro (Aliança). Além de acordos com a França, em 1907 a Rússia firma um acordo com a Inglaterra, finalizando a formação da Tríplice Entente.

O Estopim da Guerra

Francisco Ferdinando e sua esposa, momentos antes de ser assassinado
(Sarajevo, Bósnia-Herzegovina, 1914)
A Crise dos Balcãs: O sentimento nacionalista na Sérvia gerou um ideal de construção de uma Grande Sérvia que deveria unir os sérvios aos bósnios, croatas e eslovenos. Além disso, a Rússia fomentou um movimento na região conhecido como Pan-eslavismo, que queria unir os povos eslavos (povos da Península Balcânica e da Europa Oriental) sob a proteção da Rússia. No entanto, grande parte da região estava sob a tutela do Império Turco-Otomano e do Império Austro-Húngaro. Ainda no século XIX, a Rússia conseguiu afastar o domínio turco sobre a região fomentando várias rebeliões nos Balcãs, no entanto, a Bósnia-Herzegovina continuava sob o domínio do Império Austro-Húngaro, frustrando o Ideal nacionalista sérvio.
O Assassinato do Príncipe: No dia 28 de junho de 1914, o príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro, o Arquiduque Francisco Ferdinando, visitou o governador da Bósnia-Herzegovina, em Sarajevo, capital do país. Após o encontro, o príncipe foi assassinado por um ativista do movimento pela Grande Sérvia. Em resposta ao atentado, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia. Defendendo seus interesses pan-eslavistas, a Rússia, declarou guerra ao Império Austro-Húngaro iniciando a primeira guerra mundial. Em poucos dias, como em um efeito dominó, os países da Tríplice Entente e da Tríplice Aliança estavam em guerra.

As Fases da Guerra

1ª Fase: Guerra em MovimentoO início da guerra foi marcado por um intenso movimento de tropas. A Alemanha pretendia invadir rapidamente a França, para evitar as defesas francesas posicionadas na fronteira os alemães invadiram a Bélgica, que até então havia se declarado neutra. A tática alemã deu certo e os alemães chegaram próximos à Paris, capital francesa. Entretanto, com a ajuda da Inglaterra, os franceses conseguiram impedir o avanço do exército alemão iniciando a fase entrincheirada da guerra.

 2ª Fase: Guerra de Trincheiras: 
 Soldados Australianos (Grã- Bretanha) usando
máscaras na Trincheira
(Ypres, Bélgica, 1917).

Trincheiras: Rede de valas cavadas no solo, onde os soldados se protegiam dos tiros e dos bombardeios inimigos. As trincheiras eram usadas para firmar posições e desgastar os inimigos, porém, a pouca movimentação deu um caráter estático à guerra.
Frente Ocidental: Do lado ocidental a guerra se desenvolvia principalmente nos territórios da Bélgica, França e Suiça, porém, devido as trincheiras, os avanços pela terra eram muito limitados. Assim, as principais batalhas ocorriam pelo mar, protagonizadas por Alemanha e Inglaterra e com novas tecnologias marítimas, como os encouraçados e submarinos.
Frente Oriental: No oriente, um exército russo mal preparado e mal equipado sofria pesadas derrotas para a Alemanha. Além disso, uma crise política, social e econômica agravava a situação dos russos.
Desenvolvimento Bélico (armas): Entre o inicio da Corrida Armamentista e o fim da Primeira Guerra, várias armas letais foram inventadas e utilizadas, como, por exemplo, as metralhadoras, os lança-chamas e as granadas de mão modernas. Gases venenosos como o Cloro e o Mostarda foram utilizados contra soldados e civis durante a guerra. Os aviões substituíram os dirigíveis nos bombardeios por serem mais rápidos. Os submarinos se tornaram uma possibilidade no inicio do século XX e foram muito utilizados pela Alemanha e Inglaterra. Por fim, os primeiros tanques de guerra também foram criados e tiveram uma importante contribuição para o fim da guerra de trincheiras. O uso dessas novas armas tornou raros os combates corpo a corpo.

Novas Alianças: Durante a guerra as alianças mudaram com a entrada e a saída de países da guerra.
Sérvia (Entente): Por razões obvias a Sérvia se alia a Entente assim que a guerra começa em Julho de 1914.
Japão (Entente): Desejando conquistar as colônias alemãs na china, o Japão declara guerra à Alemanha em 1914.
Bélgica (Aliança): Após ser derrotada de surpresa pelos alemães, a Bélgica foi forçada a auxiliar a Aliança ainda em 1914.
Império Turco-Otomano (Aliança): Em 1915, a Alemanha se aproveitou das rivalidades do Império Turco-Otomano com a Rússia para convencê-lo a entrar na guerra ao lado da Aliança.
Bulgária (Aliança): Em 1915, a Bulgária entra para a Aliança visando combater as intenções russas sobre os Balcãs.
Itália (Entente): Apesar dos acordos firmados com a Alemanha, França e Inglaterra convenceram a Itália a mudar de lado em troca da promessa de territórios em 1915.
Romênia (Entente): Desejando territórios do Império Austro-Húngaro (Transilvânia), a Romênia entra para a Entente em 1916. No entanto, o exército Romeno era mal preparado e treinado, transformando o país mais num fardo do que em um aliado da Entente.
Portugal (Entente): Querendo defender suas colônias na África e honrar alianças com a Inglaterra, Portugal decide entrar para a Entente em 1916.
Grécia (Entente): As tentativas da Aliança em intervir na Grécia causaram uma reação grega à Alemanha e ao Império Austro-Húngaro, assim, em 1916, a Grécia se une a Entente.
Império Britânico e Frances: Durante todo o período de guerra, Franceses e Britânicos contaram com a ajuda de soldados que vieram das colônias africanas e Asiáticas desses países. Portanto, vários destacamentos eram compostos por Indianos, Africanos, Canadenses, Australianos, etc. Por questões raciais, os países da Aliança se recusaram a utilizar soldados das colônias, pois, de acordo com eles, eram “primitivos” e não conheciam “honra militar”.

3ª Fase: Nova Guerra em Movimento:
"Tio Sam", cartaz convocando soldados para lutar na
Primeira Guerra Mundial por John Flagg (1917).

EUA (Entente): No inicio da guerra os EUA manteve uma postura neutra ao passo que mantinha relações comercias com os dois lados. Entretanto, a medida que a guerra avançava os EUA se posicionavam cada vez mais ao lado da Entente, tentando fortalecer o bloco para garantir o retorno de seus investimentos. Em 1917, a Alemanha adotou a postura de afundar todos os navios que levassem armas e alimentos para os países da Entente, portanto, após afundar navios americanos, os EUA assumiram sua postura pró Entente oficialmente, declarando guerra a Alemanha e seus aliados. A entrada dos EUA na guerra representou uma grande ajuda para a Entente, pois, contavam agora com novos recursos financeiros, bélicos e humanos para continuar na guerra.
Brasil (Entente): No inicio do século XX o Brasil pautava sua economia na exportação do café. Assim, para agradar seu maior cliente (os EUA que compravam cerca de 60% do café brasileiro), o Brasil também aprofundou relações com os países da Entente. Assim, como os navios americanos foram afundados por Alemães, também foram os navios brasileiros, levando ao Brasil a declarar guerra à Aliança em 1917. Na guerra, o Brasil enviou medicamentos e assistência médica, além disso participou de patrulhas marítimas no oceano Atlântico.
Rússia (Fora da Guerra): Desgastada com as constantes derrotas e em meio a uma grave crise política, econômica e social, a Rússia entra em um processo revolucionário que instaurou o socialismo no país (Revolução Russa de 1917). O novo governo russo, portanto, assina um tratado de paz com a Aliança, concedendo alguns territórios para a Alemanha.
O Ataque a Frente Ocidental: Com a saída da Rússia, a Aliança ficou confiante de sua vitória. Em 1918 a Alemanha organizou um grande ataque sobre a Entente que supostamente acabaria com a guerra. Com esse ataque, a Aliança conquistou vários territórios, porém, não conseguiu quebrar as defesas Britânicas e Francesas. Com o apoio dos EUA, a Entente realiza uma grande contraofensiva que praticamente elimina os demais países da Aliança.
A República de Weimar: Com a derrota de países da Aliança e da grande ofensiva sobre a frente ocidental, o Império Alemão mergulhou numa profunda crise. Rebeliões no exército, greves operárias e a falta de alimentos levaram o rei Guilherme II a renuncia. O novo governo sediado na cidade de Weimar, região central da Alemanha, proclamou a república e se rendeu à tríplice Entente no dia 11 de Novembro de 1918.

Os Tratados de "Paz"

"Assinatura do Tratado de Versalhes no Salão dos Espelhos"
por William Orpen (1919).
O saldo trágico da Primeira Guerra: Calcula-se que cerca de 10 milhões de pessoas morreram em decorrência da guerra, 20 milhões saíram da guerra mutilados e incontáveis órfãos e refugiados sobreviveram à guerra. Os números chocaram a sociedade ocidental, pois, nunca antes na história tantas mortes foram contabilizadas em uma única guerra. A destruição da Europa provocada pela guerra garantiu uma rápida ascensão das ideologias fascistas e comunistas vistas por partes da população como as soluções dos problemas europeus. Os EUA se aproveitaram da crise européia para crescer sua importância no cenário mundial, se tornando a maior potencia econômica, política e militar do mundo capitalista.
Os 14 pontos de Wilson: Ainda em 1918, o presidente dos EUA Woodrow Wilson, propôs uma “paz sem vencendores”, onde nenhum país deveria ser penalizado pela guerra. Entretanto, Inglaterra e França não aceitaram a proposta do presidente americano, impondo outro tratado em 1919. Além da paz sem vencedores, os 14 pontos de Wilson, propunham a criação de um órgão de segurança mundial que tinha o objetivo de manter a paz entre os países arbitrando conflitos. Esse órgão foi construído em 1919 e se chamou Liga das Nações que anos mais tarde passaria a se chamar Organização das Nações Unidas (ONU).
O Tratado de Versalhes: A cada um dos países derrotados na primeira guerra mundial, foi imposto um tratado que os obrigava a ceder territórios e/ou pagar indenizações. Porém, entre esses tratados, de “paz” o mais agressivo foi formulado para a Alemanha, o Tratado de Versalhes de 1919. O tratado colocava a Alemanha na posição de principal culpada pelas atrocidades cometidas na Primeira Guerra e obrigava a Alemanha a:

  • Devolver a região da Alsácia-Lorena para a França, região conquistada pela Alemanha ao fim da Guerra Franco-Prussiana de 1871.
  • Ceder todas as suas colônias aos vencedores da guerra.
  • Entregar para a França os direitos de exploração sobre o carvão na bacia do rio Sarre.
  • Pagar aos adversários uma indenização de 33 bilhões de dólares.
  • Proibia a militarização na Alemanha e o desenvolvimento industrial bélico.